Novo Prazo para a NR-1: Como Implementar Controles Psicossociais Antes da Avaliação Formal dos Riscos.
- Ricardo Porto
- 26 de jun.
- 4 min de leitura
Um roteiro prático e detalhado para preparar sua empresa !

O novo cenário da NR-1
A Portaria MTE n.º 765, de 15 de maio de 2025, publicada no Diário Oficial da União em 16/05/2025, prorrogou para 25 de maio de 2026 o início da vigência do capítulo 1.5 da NR-1, que exige a identificação, avaliação e controle dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) das empresas. A mudança atende a pedidos de centrais sindicais e do setor produtivo, que alegaram a necessidade de mais tempo para adaptação e para criar um ambiente mentalmente saudável, capaz de gerar avaliações realmente eficazes e baseadas em realidades já melhoradas.
Etapas detalhadas para implementação dos controles preventivos
1. Compromisso da Liderança
O que fazer:
Elaborar e formalizar políticas e diretrizes de promoção da saúde mental.
Nomear responsáveis (exemplo: criar um comitê interno de saúde mental).
Destinar recursos (tempo, orçamento, treinamentos) específicos para o tema.
Como fazer:
Anunciar a política oficialmente, por canais internos (reuniões, e-mail, murais).
Garantir envolvimento da alta direção nas primeiras comunicações e eventos.
Resultado esperado:
Estrutura clara, equipe engajada e legitimidade do programa. Prazo sugerido: Mês 1
2. Escuta Ativa e Diagnóstico Inicial
O que fazer:
Promover rodas de conversa abertas (presenciais ou online).
Disponibilizar caixas de sugestões anônimas ou formulários digitais.
Realizar um diagnóstico qualitativo preliminar, sem perguntas invasivas.
Como fazer:
Contratar facilitadores, se necessário, para garantir neutralidade.
Resumir os principais pontos críticos percebidos pelos próprios trabalhadores.
Resultado esperado:
Mapeamento dos principais riscos e estressores, sem exposição individual. Prazo sugerido: Mês 1–2
3. Eliminação/Substituição de Fatores Estressores
O que fazer:
Rever metas inalcançáveis e prazos excessivos.
Ajustar jornadas (evitar acúmulo de horas extras e sobrecarga).
Adotar políticas de tolerância zero para assédio moral e sexual, com regras claras e conhecidas.
Como fazer:
Negociar ajustes com os gestores de cada área.
Divulgar as novas regras em linguagem simples.
Resultado esperado:
Redução perceptível do estresse e do medo entre colaboradores. Prazo sugerido: Mês 2–4
4. Engenharia Organizacional
O que fazer:
Implementar melhorias físicas: criar áreas de descanso, ajustar ergonomia dos postos, melhorar iluminação e ventilação.
Adaptar ambientes de trabalho para conforto físico e psicológico.
Como fazer:
Fazer pequenas reformas ou reorganizações (mudar disposição das mesas, instalar divisórias, etc.).
Ouvir sugestões para priorizar os investimentos.
Resultado esperado:
Ambiente mais confortável, aumento do bem-estar geral. Prazo sugerido: Mês 3–5
5. Controles Administrativos
O que fazer:
Programar pausas obrigatórias para descanso mental.
Flexibilizar horários para setores possíveis (home office, jornadas móveis).
Definir e documentar claramente funções e responsabilidades.
Como fazer:
Atualizar manuais, murais e sistemas internos com as novas regras.
Promover treinamentos rápidos para alinhamento de expectativas.
Resultado esperado:
Menos sobrecarga, redução de conflitos e mais previsibilidade. Prazo sugerido: Mês 3–6
6. Apoio Social e Promoção da Saúde
O que fazer:
Treinar líderes em comunicação não-violenta e empatia.
Oferecer mentorias e rodas de apoio entre colegas.
Disponibilizar campanhas de promoção da saúde mental, ginástica laboral e eventos de integração.
Como fazer:
Parcerias com psicólogos, terapeutas e educadores físicos.
Promover ações periódicas para reforço do cuidado.
Resultado esperado:
Fortalecimento de vínculos e percepção de apoio social. Prazo sugerido: Mês 4–7
7. Canais de Denúncia e Resposta Rápida
O que fazer:
Estabelecer ou reforçar ouvidorias sigilosas, com resposta garantida em até 48h.
Divulgar claramente os canais e como funciona o fluxo de apuração.
Como fazer:
Utilizar ferramentas digitais (chat, e-mail, formulário online) e pontos físicos.
Garantir anonimato e isenção dos responsáveis pela apuração.
Resultado esperado:
Aumento da confiança dos colaboradores e redução de subnotificação. Prazo sugerido: Mês 4–6
8. Monitoramento de Indicadores Simples
O que fazer:
Monitorar absenteísmo, rotatividade, feedbacks, NPS interno, queixas e incidentes.
Como fazer:
Atualizar planilhas e dashboards mensais.
Apresentar os resultados em reuniões de equipe, mantendo transparência.
Resultado esperado:
Capacidade de ajustes rápidos e contínuos nas ações preventivas. Prazo sugerido: Mês 4–9
9. Registro Sistemático das Ações no PGR
O que fazer:
Documentar cada ação implementada, com evidências (fotos, atas, comunicações).
Atualizar o Inventário de Riscos e o Plano de Ação do PGR com todas as iniciativas e seus resultados.
Como fazer:
Manter um repositório digital organizado.
Preparar relatórios periódicos para consulta e auditorias.
Prazo sugerido: Contínuo
Resultado esperado:
Conformidade legal e facilitação de auditorias futuras.
Ao fim do ciclo inicial de 6 a 9 meses, analise os indicadores monitorados, promova feedbacks com equipes e faça ajustes necessários. Essa revisão fecha o ciclo preventivo, solidifica a cultura de prevenção e cria a base ideal para avaliações formais.

Quando iniciar a avaliação formal dos riscos psicossociais?
Recomenda-se só avaliar formalmente após 9 a 12 meses de controles implementados e estabilizados. Assim, você evita medir um ambiente ainda “cru” e obtém diagnósticos realmente úteis para novas ações.
Passos para a avaliação:
Selecione métodos reconhecidos, como ISTAS-21, COPSOQ ou HSE Management Standards.
Garanta participação anônima, boa amostragem por setor/turno e devolutiva transparente dos resultados.
Elabore e compartilhe plano de ação com base nos dados colhidos.
Atualize o PGR com os resultados, fechando o ciclo de melhoria contínua.
Conclusão: Prevenção Primeiro, Mensuração Depois
Com a prorrogação para maio de 2026, as empresas têm não apenas tempo, mas um roteiro claro e seguro para implementar mudanças reais antes de medir resultados. Aplique controles robustos, registre cada avanço, crie um ambiente psicologicamente saudável e só depois parta para a avaliação formal. Isso trará dados sólidos, clima organizacional melhor, trabalhadores mais saudáveis e produtividade sustentável.
Invista antes de medir: é bom para o negócio, para as pessoas e para o cumprimento da lei.






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